Desde o período neolítico, imagens femininas eram moldadas em pedra, osso ou argila, com ancas corpulentas, a barriga proeminente e madura com vida nova, e seios enormes, ricos de alimento. Tais figuras representavam a Mãe Terra que continha o mistério da vida regeneradora.. Ainda havia pouca diferenciação nessa representação de abundância, como demonstra a falta de traços faciais, de mãos e pés.
À medida que a civilização se desenvolveu, a Mãe Terra cessou de ser singularmente identificada com fertilidade e passou a ser associada à deusa do amor e da paixão. O olho do artista, então, contemplou com uma espécie adicional de beleza as formas femininas. Os traços delicados de O Nascimento de Vênus, de Botticelli, por exemplo, ou as séries da provocante Vênus pintadas por Cranach, representam a simetria e a proporção do elegante corpo feminino despudoradamente sensual. Pés e mãos graciosos, com dedos esbeltos, afilados, e rosto vivo caracterizam a imagem da deusa do amor criada por artistas na forma de mulher humana. Além da beleza física, essas imagens refletiam uma constituição mental de paz e uma integridade calma.
Por meio dessa imagem arquetípica, a figura sensual da deusa do amor, a mulher individualmente pode vir a tornar-se consciente de sua natureza feminina divina. Sua natureza humana, baseada nos atributos da deusa, personificada na prostituta sagrada, pode então alcançar relacionamento responsável e válido com aquele aspecto divino.
Manter relacionamento correto com a deusa não é empenho fácil. A história da atitude humana para com a deusa deixou sua marca na psique das mulheres de hoje. Nos tempos antigos, a deusa era “venerada”. Mais tarde, mudanças nas tradições religiosas redundaram na perda da reverência em relação à deusa e às prostitutas sagradas, que eram as suas sacerdotisas. Com o advento da religião patriarcal e a conseqüente perda da reverência pela deusa, o desenvolvimento consciente da mulher ficou consideravelmente bloqueado. Lentamente ela passou a cultuar deuses feitos por homens; os valores dos homens tornaram-se os seus valores; as atitudes dos homens que justificavam a subordinação da mulher tornaram-se os seus valores.
Obliterado juntamente com a deusa ficou o conceito da mulher como “uma-em-si-mesma”, uma pessoa íntegra; a mulher se definia exclusivamente em termos de sua relação com o homem. Ela definia sua castidade pelo eco dos critérios masculinos, racionais e físicos, como prescreviam as leis dos homens, enquanto negavam a castidade de sua alma. Embora isso fosse contrário à sua essência feminina interior, a mulher via a si mesma como inferior, papel que ela aceitou até bem recentemente.
A perda do relacionamento com a deusa gerou insatisfação; sem percepção consciente de si própria, as maneiras pelas quais a mulher pode exprimir sua natureza instintiva ficam extremamente limitadas. A mulher precisa redescobrir o significado da deusa para que o aspecto dinâmico da imagem, agindo como padrão de comportamento, possa ter papel ativo na formação, regulação e motivação da consciência feminina. Jung sustenta que
a realização e a assimilação do instinto nunca se dão...pela absorção dentro da esfera instintiva, mas apenas através da integração da imagem que significa e, ao mesmo tempo, evoca o instinto, embora em forma bem diferente da que encontramos a nível biológico.
A imagem da deusa, associada à beleza física do corpo feminino, ativa energias arquetípicas relativas ao amor, à paixão, e à capacidade de relacionamento. A mulher que honra esses sentimentos chega a compreender e a valorizar a prostituta sagrada encarnada em sua própria personalidade,
A diferença entre a mulher psicologicamente imatura (a virgem) e a mulher psicologicamente madura (independente da idade), é que a primeira quer que o amor a sirva, enquanto a última escolhe servir ao amor, isto é, à deusa. Na mulher madura, os instintos sexuais biológicos são usados de maneira tal a honrar o Si-mesmo, e não pelo poder ou por gratificação pessoal. A paixão do ato sexual pode, assim, ser experimentada como física e espiritual ao mesmo tempo.
A negação prolongada por parte da mulher de seu corpo e de sua sexualidade resulta na ossificação de atitudes mentais, o que é contraditório em relação à sua natureza potencialmente “virginal”. (...)
A consciência da natureza feminina começa na profunda valorização e na devoção zelosa do corpo. Qualquer que seja sua forma e seu tamanho, seu corpo é único e, portanto especial. A maioria das mulheres ainda se deixa prender na teia da propaganda que nasce do mundo do consumismo popular.
Comparando-se às outras, em vez de apreciar o que ela própria é, a mulher cria uma situação na qual a voz interna do animus negativo insinua-se sorrateiramente com crenças do tipo: “Você nunca estará à altura! Você nunca será boa (bonita, desejável etc.) o bastante!”. E todo esse tempo a mulher é mantida cativa daquilo que ela erroneamente identifica como defeitos pessoais.
À medida que a civilização se desenvolveu, a Mãe Terra cessou de ser singularmente identificada com fertilidade e passou a ser associada à deusa do amor e da paixão. O olho do artista, então, contemplou com uma espécie adicional de beleza as formas femininas. Os traços delicados de O Nascimento de Vênus, de Botticelli, por exemplo, ou as séries da provocante Vênus pintadas por Cranach, representam a simetria e a proporção do elegante corpo feminino despudoradamente sensual. Pés e mãos graciosos, com dedos esbeltos, afilados, e rosto vivo caracterizam a imagem da deusa do amor criada por artistas na forma de mulher humana. Além da beleza física, essas imagens refletiam uma constituição mental de paz e uma integridade calma.
Por meio dessa imagem arquetípica, a figura sensual da deusa do amor, a mulher individualmente pode vir a tornar-se consciente de sua natureza feminina divina. Sua natureza humana, baseada nos atributos da deusa, personificada na prostituta sagrada, pode então alcançar relacionamento responsável e válido com aquele aspecto divino.
Manter relacionamento correto com a deusa não é empenho fácil. A história da atitude humana para com a deusa deixou sua marca na psique das mulheres de hoje. Nos tempos antigos, a deusa era “venerada”. Mais tarde, mudanças nas tradições religiosas redundaram na perda da reverência em relação à deusa e às prostitutas sagradas, que eram as suas sacerdotisas. Com o advento da religião patriarcal e a conseqüente perda da reverência pela deusa, o desenvolvimento consciente da mulher ficou consideravelmente bloqueado. Lentamente ela passou a cultuar deuses feitos por homens; os valores dos homens tornaram-se os seus valores; as atitudes dos homens que justificavam a subordinação da mulher tornaram-se os seus valores.
Obliterado juntamente com a deusa ficou o conceito da mulher como “uma-em-si-mesma”, uma pessoa íntegra; a mulher se definia exclusivamente em termos de sua relação com o homem. Ela definia sua castidade pelo eco dos critérios masculinos, racionais e físicos, como prescreviam as leis dos homens, enquanto negavam a castidade de sua alma. Embora isso fosse contrário à sua essência feminina interior, a mulher via a si mesma como inferior, papel que ela aceitou até bem recentemente.
A perda do relacionamento com a deusa gerou insatisfação; sem percepção consciente de si própria, as maneiras pelas quais a mulher pode exprimir sua natureza instintiva ficam extremamente limitadas. A mulher precisa redescobrir o significado da deusa para que o aspecto dinâmico da imagem, agindo como padrão de comportamento, possa ter papel ativo na formação, regulação e motivação da consciência feminina. Jung sustenta que
a realização e a assimilação do instinto nunca se dão...pela absorção dentro da esfera instintiva, mas apenas através da integração da imagem que significa e, ao mesmo tempo, evoca o instinto, embora em forma bem diferente da que encontramos a nível biológico.
A imagem da deusa, associada à beleza física do corpo feminino, ativa energias arquetípicas relativas ao amor, à paixão, e à capacidade de relacionamento. A mulher que honra esses sentimentos chega a compreender e a valorizar a prostituta sagrada encarnada em sua própria personalidade,
A diferença entre a mulher psicologicamente imatura (a virgem) e a mulher psicologicamente madura (independente da idade), é que a primeira quer que o amor a sirva, enquanto a última escolhe servir ao amor, isto é, à deusa. Na mulher madura, os instintos sexuais biológicos são usados de maneira tal a honrar o Si-mesmo, e não pelo poder ou por gratificação pessoal. A paixão do ato sexual pode, assim, ser experimentada como física e espiritual ao mesmo tempo.
A negação prolongada por parte da mulher de seu corpo e de sua sexualidade resulta na ossificação de atitudes mentais, o que é contraditório em relação à sua natureza potencialmente “virginal”. (...)
A consciência da natureza feminina começa na profunda valorização e na devoção zelosa do corpo. Qualquer que seja sua forma e seu tamanho, seu corpo é único e, portanto especial. A maioria das mulheres ainda se deixa prender na teia da propaganda que nasce do mundo do consumismo popular.
Comparando-se às outras, em vez de apreciar o que ela própria é, a mulher cria uma situação na qual a voz interna do animus negativo insinua-se sorrateiramente com crenças do tipo: “Você nunca estará à altura! Você nunca será boa (bonita, desejável etc.) o bastante!”. E todo esse tempo a mulher é mantida cativa daquilo que ela erroneamente identifica como defeitos pessoais.
Texto extraído do livro A PROSTITUTA SAGRADA - A Face Eterna do Feminino de Nancy Qualls-Corbett, Ed. Paulus - pgs. 153 a 157
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