sexta-feira, 1 de abril de 2011

ÍNDIOS NÃO TEM MEDO DO SILÊNCIO Nós os índios, conhecemos o silêncio, não temos medo dele. Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras. Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento. "Observa, escuta, e logo atua", nos diziam. Esta é a maneira correta de viver. Observa os animais para ver como cuidam se seus filhotes; observa os anciões para ver como se comportam; observa o homem branco para ver o que querem. Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás. Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar. Com vocês, brancos e pretos, é o contrário. Vocês aprendem falando. Dão prêmios às crianças que falam mais na escola, em suas festas, todos tratam de falar. No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes e chamam isso de "resolver um problema". Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons. Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer. Vocês gostam de discutir, nem sequer permitem que o outro termine uma frase. Sempre interrompem. Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido. Se começas a falar, eu não vou te interromper. Te escutarei, mas talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo, mas não vou te interromper. Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste,mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante. Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei. Terás dito o que preciso saber. Não há mais nada a dizer. Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês. Deveriam pensar nas suas palavras como se fossem sementes. Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio. Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la. Existem muitas vozes além das nossas, muitas vozes. Só vamos escutá-las em silêncio. APRENDAMOS COM ELES... Texto traduzido por Leela, Porto Alegre: "Neither Wolf nor Dog. On Forgotten Roads with an Indian Elder" - Kent Nerburn

quinta-feira, 10 de março de 2011

A cultura patriarcal tem uma dimensão particularmente perversa: a de criar a ideia na opinião pública que as mulheres são oprimidas e, como tal, vítimas indefesas e silenciosas. Este estereótipo torna possível ignorar ou desvalorizar as lutas de resistência e a capacidade de inovação política das mulheres.


Boaventura de Sousa Santos
No passado dia 8 de março celebrou-se o Dia Internacional da Mulher. Os dias ou anos internacionais não são, em geral, celebrações. São, pelo contrário, modos de assinalar que há pouco para celebrar e muito para denunciar e transformar. Não há natureza humana assexuada;
há homens e mulheres. Falar de natureza humana sem falar na diferença sexual é ocultar que a “metade” das mulheres vale menos que a dos homens. Sob formas que variam consoante o tempo e o lugar, as mulheres têm sido consideradas como seres cuja humanidade é problemática (mais perigosa ou menos capaz) quando comparada com a dos homens. À dominação sexual que este preconceito gera chamamos patriarcado e ao senso comum que o alimenta e reproduz, cultura patriarcal.

A persistência histórica desta cultura é tão forte que mesmo nas regiões do mundo em que ela foi oficialmente superada pela consagração constitucional da igualdade sexual, as práticas quotidianas das instituições e das relações sociais continuam a reproduzir o preconceito e a desigualdade. Ser feminista hoje significa reconhecer que tal discriminação existe e é injusta e desejar activamente que ela seja eliminada. Nas actuais condições históricas, falar de natureza humana como se ela fosse sexualmente indiferente, seja no plano filosófico seja no plano político, é pactuar com o patriarcado.

A cultura patriarcal vem de longe e atravessa tanto a cultura ocidental como as culturas africanas, indígenas e islâmicas. Para Aristóteles, a mulher é um homem mutilado e para São Tomás de Aquino, sendo o homem o elemento activo da procriação, o nascimento de uma mulher é sinal da debilidade do procriador. Esta cultura, ancorada por vezes em textos sagrados (Bíblia e Corão), tem estado sempre ao serviço da economia política dominante que, nos tempos modernos, tem sido o capitalismo e o colonialismo. Em Three Guineas (1938), em resposta a um pedido de apoio financeiro para o esforço de guerra, Virginia Woolf recusa, lembrando a secundarização das mulheres na nação, e afirma provocatoriamente: “Como mulher, não tenho país. Como mulher, não quero ter país. Como mulher, o meu país é o mundo inteiro”.

Durante a ditadura portuguesa, as Novas Cartas Portuguesas publicadas em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, denunciavam o patriarcado como parte da estrutura fascista que sustentava a guerra colonial em África. "Angola é nossa" era o correlato de "as mulheres são nossas (de nós, homens)" e no sexo delas se defendia a honra deles. O livro foi imediatamente apreendido porque justamente percebido como um libelo contra a guerra colonial e as autoras só não foram julgadas porque entretanto ocorreu a Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974.

A violência que a opressão sexual implica ocorre sob duas formas, hardcore e softcore.
A versão hardcore é o catálogo da vergonha e do horror do mundo. Em Portugal, morreram 43 mulheres em 2010, vítimas de violência doméstica. Na Cidade Juarez (México) foram assassinadas nos últimos anos 427 mulheres, todas jovens e pobres, trabalhadoras nas fábricas do capitalismo selvagem, as maquiladoras, um crime organizado hoje conhecido por femicídio. Em vários países de África, continua a praticar-se a mutilação genital. Na Arábia Saudita, até há pouco, as mulheres nem sequer tinham certificado de nascimento. No Irã, a vida de uma mulher vale metade da do homem num acidente de viação; em tribunal, o testemunho de um homem vale tanto quanto o de duas mulheres; a mulher pode ser apedrejada até à morte em caso de adultério, prática, aliás, proibida na maioria dos países de cultura islâmica.

A versão softcore é insidiosa e silenciosa e ocorre no seio das famílias, instituições e comunidades, não porque as mulheres sejam inferiores mas, pelo contrário, porque são consideradas superiores no seu espírito de abnegação e na sua disponibilidade para ajudar em tempos difíceis. Porque é uma disposição natural. não há sequer que lhes perguntar se aceitam os encargos ou sob que condições. Em Portugal, por exemplo, os cortes nas despesas sociais do Estado actualmente em curso vitimizam em particular as mulheres. As mulheres são as principais provedoras do cuidado a dependentes (crianças, velhos, doentes, pessoas com
deficiência). Se, com o encerramento dos hospitais psiquiátricos, os doentes mentais são devolvidos às famílias, o cuidado fica a cargo das mulheres. A impossibilidade de conciliar o trabalho remunerado com o trabalho doméstico faz com que Portugal tenha um dos valores mais
baixos de fecundidade do mundo. Cuidar dos vivos torna-se incompatível com desejar mais vivos.

Mas a cultura patriarcal tem, em certos contextos, uma outra dimensão particularmente perversa: a de criar a ideia na opinião pública que as mulheres são oprimidas e, como tal, vítimas indefesas e silenciosas.

Este estereótipo torna possível ignorar ou desvalorizar as lutas de resistência e a capacidade de inovação política das mulheres. É assim que se ignora o papel fundamental das mulheres na revolução do Egipto ou na luta contra a pilhagem da terra na Índia; a acção política das mulheres que lideram os municípios em tantas pequenas cidades africanas e a sua luta contra o machismo dos lideres partidários que bloqueiam o acesso das mulheres ao poder político nacional; a luta incessante e cheia de riscos pela punição dos criminosos levada a cabo pelas mães das jovens
assassinadas em Cidade Juarez; as conquistas das mulheres indígenas e islâmicas na luta pela igualdade e pelo respeito da diferença, transformando por dentro as culturas a que pertencem; as práticas inovadoras de defesa da agricultura familiar e das sementes tradicionais das mulheres do Quénia e de tantos outros países de África; a resposta das mulheres palestinianas quando perguntadas por auto-convencidas feministas europeias sobre o uso de contraceptivos: “na Palestina, ter filhos é lutar contra a limpeza étnica que Israel impõe ao nosso povo”.

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A prisão de não saber dizer não

A dificuldade em dizer não é um padrão emocional muito comum, facilmente detectável em boa parte das pessoas. A maioria de nós, em maior ou menor grau, sente essa dificuldade. Vamos analisar um pouco como esse padrão se manifesta, o que pode estar por trás dele, bem como sugestões de como seria possível melhorar.
Em alguns casos é muito fácil detectar o padrão de não conseguir impor limites. Conseguimos percebê-lo em nós mesmos muitas vezes quando alguém nos pede algo (ou as vezes nos impõe), e, para não causar brigas, constrangimentos ou para evitar sermos rejeitados, fazemos algo que vai contra o nosso desejo interior.
Outras vezes a dificuldade de dizer não aparece disfarçadamente. Vou citar um exemplo. Algumas explosões de raiva são na verdade, uma manifestação das consequências desse padrão. Conheço uma pessoa que costuma aceitar tudo, vai engolindo, aceitando, permitindo. O outro pede e ela faz e não reclama (pelo menos não reclama para a pessoa diretamente, comenta apenas com os outros). Todos a vêem como uma ótima pessoa, muito solícita. No entanto vai se acumulando uma insatisfação interior até que um belo dia surge uma grande reação de raiva.
Nesse dia, ela consegue dizer não para a pessoa e aproveita a oportunidade para falar tudo que ficou engasgado de tudo que ela fez contra a sua vontade. O resultado disso é a perda das amizades, dificuldades nos relacionamentos de trabalho e em todas as áreas.
As pessoas que tem esse padrão costumam comentar coisas do tipo “fulano é muito cara de pau, teve a capacidade de pedir isso e aquilo, e não é a primeira vez”; “eu jamais teria coragem de pedir tal coisa pra alguém”. E no final perguntamos: e você atendeu ao pedido? E a reposta é sempre “ah sim, acabei fazendo, mas foi contra a minha vontade”. E o discurso segue relatando o quanto esse pedido inapropriado lhe trouxe prejuízo material e quanto tempo foi perdido. É como se a pessoa dissesse interiormente “vou fazer o que estão me pedindo, mas de forma muito contrariada, vou reclamar bastante e ficar com muita raiva, comentarei com todo mundo o quanto essa pessoa é cara de pau, quem sabe ela toma consicência e para de me pedir essas coisas, não é possível que isso continue, ela deveria saber o limite, deveria ter bom senso assim como eu tenho”. Obviamente, o comportamento do outro não vai mudar por isso e a história irá se repetir.
Esse tipo de discurso coloca a pessoa no lugar vítima: “os outros não me respeitam, a culpa não é minha, o mundo é que deveria mudar”. Um ganho secundário desse comportamento é o de ser visto como uma pessoa boa pelos outros: a explorada, a coitada, a vítima das maldades do mundo. Muita gente usa do vitimismo para obter aceitação e reconhecimento. No entanto isso funciona muito pouco, ou funciona apenas no começo. A tendência é que as pessoas comecem
a perceber esse padrão e se afastem com o tempo, deixando a vítima cada vez mais isolada, o que a fará sentir ainda mais como uma vítima. Ela então precisará encontrar novos círculos para realizar o mesmo processo.
Muitas pessoas que agem dessa forma, inconscientemente começam a se isolar como forma de evitar relacionamentos e ter que fazer coisas contra a sua vontade. Viver a vida sem colocar limites acaba levando a tristeza, ansiedade e depressão.
Conforme citei no inicio do texto, a dificuldade de dizer não pode estar em vários níveis, variando de pessoa para pessoa.
Tem esse tipo de caso que relatei onde a pessoa acumula raiva até explodir. Tem outros casos também de pessoas que dizem não na hora em que recebem um pedido que acham injusto, mas o fazem de forma raivosa ou agressiva. É a sua defesa para esconder a insegurança que carregam. O “não” poderia ser dito de forma firme e ao mesmo tempo educada, sem qualquer tipo de desconforto por alguém que fosse mais seguro. Existe ainda aquele tipo que parece que nunca fica com raiva, nem mesmo com o acúmulo de situações. Prejudicam muito a sua própria vida. É nessas pessoas que a insatisfação provocada irá causar mais intensamente quadros de depressão e ansiedade.
Comecei a refletir sobre o seguinte. De vez em quando me pego irritado quando alguém me solicita algo que não considero razoável, ou testemunho amigos comentando coisas que indicam sentimentos parecidos. Comecei então a desenvolver o seguinte pensamento: Qualquer um tem o direito de pedir o quiser, quando quiser, e eu tenho que estar preparado para isso aprendendo a negar e colocar os limites de forma firme e sem me alterar. Se eu fico com raiva ou irritado, sei
que faz parte da minha insegurança e não adianta culpar a outra pessoa pois isso seria vitimismo.
Não saber colocar limites e dizer não é uma grande prisão porque ficamos dependendo do comportamento do outro para ficar em paz. É uma insanidade ficar reclamando e dependendo do comportamentos dos outros. E quantas pessoas vivem falando sobre o quanto o mundo é injusto e sem noção?
O que causa o sofrimento não é o pedido absurdo da outra pessoa. Sofremos quando nós acatamos contra a nossa vontade ou quando reagimos de forma irritada.
Deixe o outro ser como quiser, e aprenda a dizer não quando achar que deve. Isso sim o deixará em paz.
Outra coisa comum é que a pessoa começa a prejudicar seus relacionamentos mais íntimos pois está sempre a disposição dos pedidos de outros mais distantes. Programas são desmarcados, mudanças de planos ocorrem de ultima hora... Logicamente isso causa desentendimentos familiares.
O mais interessante é que essas pessoas querem contar com compreensão da sua família; querem apoio para manter o seu comportamento subserviente com relação a terceiros. É como se dissessem “eu quero que você compreenda que eu não consigo dizer não para outras pessoas, e já que temos mais intimidade e sei que você me ama, você entenderá melhor se eu cancelar ou alterar o nosso programa pra que eu possa atender a outra solicitação. Por favor, compreenda isso e não brigue comigo, pois eu não posso contar com essa compreensão do outro lado e você sabe que tenho medo da rejeição, de não ser aceito, de perder minha imagem de bonzinho...”. Os familiares ficam magoados, sentem como se todo mundo fosse mais importante e que a relação mais próxima não está sendo valorizada, por que é exatamente isso que está ocorrendo.
Se aceitamos esse tipo de comportamento, estaremos formando uma aliança que dá suporte ao subserviente.
Por trás da dificuldade em dizer não podemos citar vários sentimentos negativos relativos a autoestima: medo da rejeição, medo de não ser aceito, necessidade em ser reconhecido e valorizado. Existe uma ilusão de que isso será benéfico e que a pessoa será bem vista. Mas ocorre justamente o contrário. Quanto menos damos limites, mais as pessoas nos desvalorizam. Parafraseando Gaspareto, “o mundo lhe trata como você se trata”. É uma grande verdade. Quem vive nesse padrão dificilmente percebe isso e com o passar do tempo desenvolverá o discurso de que o mundo é um lugar cruel.
Quem sabe impor limites se liberta de muita ansiedade, acumula menos trabalho, melhora as relações em todos os níveis, se relaciona melhor e é mais respeitado.

Abraços,
André Lima
O Elogio da Metamorfose, por Edgar Morin

Quando um sistema é incapaz de tratar seus problemas vitais, ele se degrada, se desintegra ou então é capaz de gerar um meta-sistema como maneira de resolver seus problemas: aí ele entra em metamorfose. O sistema Terra é incapaz de se organizar para lidar com suas questões vitais: perigos nucleares que se agravam com a disseminação e, talvez, com a privatização das armas nucleares; a degradação da biosfera; a economia global sem uma verdadeira regulamentação; retorno da fome; conflitos étnico-político-religiosos tendem a se transformar em guerras de civilização.

A amplificação e aceleração destes processos podem ser consideradas como o desencadeamento de um poderoso feedback negativo, um processo pelo qual um sistema se desintegra de forma irreversível.

O mais provável é a desintegração. O improvável, possível , porém, é a metamorfose. O que é uma metamorfose? Vemos inúmeros exemplos dela do reino animal. A lagarta que está dentro de uma crisálida começa então um processo ao mesmo tempo de autodestruição e de autoreconstrução, segundo uma organização e uma forma de borboleta,diferente da lagarta, ainda que permanecendo a mesma. O nascimento da vida pode ser concebido como a metamorfose de uma organização físico-química, que, tendo chegado a um ponto de saturação, criou uma meta organização viva, que, embora tendo os mesmos componentes físico-químicos, produz qualidades novas.

A formação das sociedades históricas, no Oriente Médio, na Índia, na China, no México, no Peru, constitui uma metamorfose a partir de um agregado de sociedades arcaicas de caçadores-coletores, que acabou produzindo as cidades, o Estado, as classes sociais, a especialização do trabalho, as grandes religiões, a arquitetura, as artes, a literatura, a filosofia. E isso também para o pior: a guerra, a escravidão. A partir do século XXI se coloca o problema da metamorfose das sociedades históricas em uma sociedade-mundo, de um novo tipo, que engloba os Estados-Nações, sem suprimí-los. Porque a continuação da história através de guerras, feitas por Estados que dispõe de armas de aniquilação, pode nos levar à quase destruição de humanidade. Enquanto que, para Fukuyama, as capacidades criativas da evolução humana se esgotam com a democracia representativa e a economia liberal, temos que pensar, ao contrário, que é a história que se esgotou e não as capacidades criativas dos humanidade.

A idéia de metamorfose, mais rica do que a idéia de revolução, guarda dela a radicalidade transformadora, mas a liga à conservação (da vida, do legado das culturas). Para seguir na direção da metamorfose, como mudar de caminho? Mas se parece possível corrigir certos males, é impossível diminuir a onda gigantesca, o diluvio técnico-científico-econômico- civilizacional que conduz o planeta aos desastres. No entanto, a história humana muitas vezes mudou de direção. Tudo começa, sempre, com uma inovação, uma nova mensagem desviante, marginal, modesta, muitas vezes invisível aos contemporâneos. Assim começaram as grandes religiões: budismo, cristianismo e islã. O capitalismo se desenvolveu como um parasita das sociedades feudais, para finalmente, decolar e, com a ajuda das monarquias, as desintegrar.

A ciência moderna foi formada a partir de alguns espíritos desviantes, inconformes às nomas, dispersos, Galileu, Bacon, Descartes, depois criou as suas redes e associações, foi introduzida nas universidades no século XIX, e no século XX introduzida nas economias e nos Estados para tornar-se um dos quatro motores potentes da espaçonave Terra. O socialismo nasceu de alguns espíritos autodidatas e marginalizados no século XIX, para se tornar uma formidável força histórica no séc. XX. Hoje, temos que repensar tudo. Tudo deve ser recomeçado.

Tudo realmente recomeçou de novo, mas sem ninguém saber. Estamos na fase dos começos, modestos, invisíveis, marginalizados, dispersos. Por que eles já existem em todos os continentes, um fermentar criativo, numa infinidade de iniciativas locais, no sentido da regeneração económica, ou social, ou política, ou cognitiva, ou educacional, ou ética, ou da reforma da vida .

Estas iniciativas não se conhecem entre si, nenhuma administração as contabiliza, nenhum partido político tem conhecimento delas. Mas elas são o viveiro para o futuro. Trata-se de reconhecer, identificar, recolher, recensear, compará-los uns aos outros e combiná-las em uma pluralidade de caminhos transformadores. Estes são caminhos múltiplos que podem, se desenvolvidos em conjunto, se combinar para formar a nova via que nos levaria em direção a essa ainda invisível e inconcebível metamorfose. Para desenvolver as vias que irão confluir indicando o Caminho, é preciso identificar essas alternativas delimitadas, que constrangem o mundo do conhecimento e do pensamento hegemônico. Assim, é necessário ao mesmo tempo globalizar e desglobalizar, crescer e decrescer, desenvolver e envolver.

A orientação globalização / desglobalização significa que, se é preciso multiplicar os processos de comunicação e planetarização cultural, e, que é necessário constituir uma consciência da “Terra-Pátria”, é preciso também promover, de modo” desglobalizante”, a alimentação de proximidade, os artesanatos de proximidade, os comércios de proximidade, as hortas suburbanas, as comunidades regionais e locais.

A orientação "crescimento / diminuição” significa fazer crescer os serviços, as energias verdes, os transportes públicos, a economia plural, especialmente a economia social e solidária, a humanização das megápolis, os agricultores e fazendas orgânicas e biológicas, os agricultores, mas fazendo decrescer a intoxicação consumista, a produção de alimentos industrializados e de produtos descartáveis e não recicláveis, o tráfego de veículos e caminhões, em detrimento das ferrovias.

A orientação desenvolvimento/ envolvimento significa que o objetivo do desenvolvimento de bens materiais, da eficiencia, da rentabilidade, da monetarização não é mais fundamental. É preciso também agora o retorno de cada um às suas necessidades interiores, o grande retorno à vida interior e ao primado da compreensão dos outros, amor e amizade.

Não basta mais denunciar. Temos agora que enunciar. Não é mais suficiente só lembrar da sua urgência. É preciso saber definir as vias que levam ao Caminho. O que nós estamos tentando contribuir? Quais são as razões para ter esperança? Podemos propor cinco princípios da esperança:

1. O surgimento de improvável. Assim, a resistência por duas vezes vitoriosa da pequena Atenas frente ao formidável poder persa, cinco séculos antes de nossa era, foi altamente improvável e permitiu o nascimento da democracia e da filosofia. Também inesperado foi o congelamento da ofensiva alemã diante de Moscou, no outono de 1941, e depois improvável contraofensiva vitóriosa de Joukov, que começou em 05 de dezembro e foi seguida em 08 de dezembro pelo ataque a Pearl Harbor, que provocou a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.

2. As virtudes geradoras / criadoras inerentes à humanidade. Da mesma maneira que existe em todo organismo humano adulto células-tronco dotadas com as habilidades polivalentes (com potencial para se transformarem em toda e qualquer parte do corpo) próprias das células embrionárias, mas inativas, da mesma forma existe em todo ser humano, em qualquer sociedade humana, virtudes regenerativas, geradoras e criativas em estado latente, ou inibida.

3. As virtudes da crise. Ao mesmo tempo que as forças regressivas ou desintegradoras, as forças criativas são despertadas na crise planetária da humanidade.

4. O que vai combinar com as virtudes do perigo: "Quando o perigo está crescendo também cresce o que nos salva." A chance suprema é inseparável do risco supremo.

5. A aspiração multimilenaria da humanidade para a harmonia (paraíso, depois utopias, depois ideologias libertárias / socialista / comunista, depois aspirações e revoltas juvenís da década de 1960). Esta aspiração renasce no pulular, no formigamento de iniciativas múltiplas e dispersas que poderão alimentar os caminhos reformadores, com vocação para se reencontrarem nesse novo caminho.

A esperança estava morta. As gerações mais velhas estão desiludidas com falsas esperanças. As gerações mais novas estão desoladas que não existam mais causas como a nossa resistência durante a Segunda Guerra Mundial. Mas a nossa causa carregava em si seu contrário. Como disse Vasily Grossman de Stalingrado, a maior conquista da humanidade foi, ao mesmo tempo, sua maior derrota por que o totalitarismo stalinista saiu vitorioso. A vitória das democracias restabeleceu no ato seu colonialismo. Hoje a causa é inequívoca, sublime: trata-se de salvar a humanidade.

A esperança verdadeira sabe que ela não é uma certeza. É a esperança não ao melhor dos mundos, mas em um mundo melhor. A origem está diante de nós, dizia Heidegger. A metamorfose seria, efetivamente, uma nova origem.

Edgar Morin - Sociólogo e filósofo. Nasceu em 1921, é diretor emérito de investigação no CNRS, presidente da Agência Europeia para a Cultura (UNESCO) e presidente da Associação para o Pensamento Complexo.
NÃO APRESSES...

Não apresses a chuva,
ela tem seu tempo de cair e
saciar a sede da terra;

Não apresses o pôr do sol,
ele tem seu tempo de anunciar
o anoitecer até seu último raio de luz;

Não apresses tua alegria,
ela tem seu tempo para
aprender com a tua tristeza;

Não apresses teu silêncio,
ele tem seu tempo de paz após
o barulho cessar;

Não apresses teu amor,
ele tem seu tempo de semear mesmo
nos solos mais áridos do teu coração,

Não apresses tua raiva,
ela tem seu tempo para diluir-se
nas águas mansas da tua consciência;

Não apresses o outro,
pois ele tem seu tempo para
florescer aos olhos do criador;

Não apresses a tí mesmo,
pois precisas de tempo para
sentir tua própria evolução.

Autoria Desconhecida
24/02/2009 - 19h48
Música pode retardar Alzheimer, diz estudo da BBC Brasil


Estudos feitos nos Estados Unidos indicam que pacientes com Mal de Alzheimer talvez possam retardar o desenvolvimento da condição por meio de musicoterapia.

O pesquisador Petr Janata, da Universidade da Califórnia, monitorou a atividade cerebral de um grupo de voluntários enquanto ouviam música e concluiu que a região do cérebro associada à música também está associada às memórias mais vívidas de uma pessoa. A área do cérebro parece servir de centro que liga música conhecida, memórias e emoções.
Seu estudo foi publicado na edição online da revista científica "Cerebral Cortex" e será incluído na edição impressa da revista, ainda neste ano.
Segundo Janata, a revelação pode ajudar a explicar por que música pode despertar reações fortes em pessoas com o Mal de Alzheimer.
A região ativada durante o experimento, o córtex pré-frontal (logo atrás da testa), é uma das últimas áreas do cérebro a se atrofiar à medida em que a doença progride.
O que parece acontecer é que uma música conhecida serve de trilha sonora para um filme mental que começa a tocar em nossa cabeça", disse o especialista.
"Ela traz de volta as lembranças de uma pessoa ou um lugar, e você pode de repente ver o rosto daquela pessoa na sua mente".
"Agora podemos ver a associação entre essas duas coisas - música e memória".

Estimulante

Trabalhos anteriores de Janata já haviam indicado que música serve como um potente estimulante no resgate da memória.
De forma a aprender mais sobre o mecanismo por trás desse fenômeno, ele reuniu 13 voluntários (estudantes da Universidade da Califórnia) para um novo estudo.
Enquanto os voluntários ouviam trechos de 30 canções diferentes em fones de ouvido, Janata monitorou a atividade em seus cérebros com um exame de ressonância magnética (fMRI).
Para aumentar as chances de que os estudantes associassem ao menos algumas das canções com lembranças do passado, o pesquisador selecionou músicas que foram sucesso no período em que cada voluntário tinha entre oito e 18 anos de idade.
Depois de ouvir cada trecho, os participantes responderam perguntas sobre a canção, entre elas, se a música era conhecida, se era boa e se estava associada a algum acontecimento, incidente ou lembrança.
Logo após o exame de ressonância magnética, os voluntários completaram um questionário sobre o conteúdo e a vividez das lembranças que cada canção familiar havia despertado.
Os questionários revelaram que, em média, cada participante reconheceu entre 17 e 30 trechos. Desses, cerca de 13 eram moderadamente ou fortemente associados com uma lembrança autobiográfica.
Músicas que estavam associadas a lembranças mais importantes foram as que provocaram as respostas mais emotivas.
Mais tarde, comparando os questionários com as imagens registradas pelo exame de ressonância magnética, Janata descobriu que o grau de importância da lembrança era proporcional à quantidade de atividade no córtex pré-frontal do estudante.
O experimento confirmou a hipótese de Janata de que esta região do cérebro associa música e memória.

Segundo Janata, lembranças de canções importantes do ponto de vista autobiográfico parecem ser poupadas em pessoas com o Mal de Alzheimer.
Tendo isso em vista, um dos objetivos do especialista é usar suas pesquisas para desenvolver terapia baseada em música para pessoas que sofrem da condição.
"Equipar pacientes com tocadores de MP3 e listas personalizadas de canções", ele especula, "pode talvez ser uma estratégia efetiva e econômica para melhorar sua qualidade de vida".