segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A ausência de amor é a causa na raiz de todos os problemas.
E a causa não está longe. Na verdade está dentro de cada indivíduo. É a condição individual interna que resulta na condição do coletivo. Cada empreitada na vida é apenas uma busca pelo amor. Assim como uma criança estava infeliz porque queria que alguém a amasse. Mais tarde a busca prosseguiu com os professores, o cônjuge, e depois com os filhos. A vida se tornou um grande processo de espera. Freqüentemente testamos nossos entes queridos pelo que chamamos de amor real e acabamos ficando insatisfeitos e com raiva.
Aquilo que as pessoas chamam de amor, é apenas pedir, desejar ardentemente e implorar por amor. Este pedido pelo amor, é o que pensamos ser o amor. A conseqüência é frustração, aborrecimento, e desespero.
Cada indivíduo tem um vazio no interior. Para preencher o vazio usamos as relações. As pessoas tem a necessidade constante de se sentirem amadas por isto tendem a serem possessivas nas suas relações. Quando o amor é posse há o medo da perda. A pessoa destrói a sua liberdade e a de todos. Um ato de medo é reivindicado como sendo amor! A verdade é que as pessoas não se amam, e uma relação é o meio de se amar. Eles tentam se preencher através das relações.
Todo amor tem que começar com o amor por si mesmo. Saiba que você só pode fazer aos outros o que faz por si mesmo. Ao contemplar sobre isso a pessoa descobre que o modo como se relaciona internamente consigo mesmo é a forma de se relacionar com os outros. Se um indivíduo se condena por cada pensamento, palavra ou ação, com certeza fará o mesmo com os outros.
Se a pessoa fica obcecada e perturbada pelas suas deficiências, ela certamente irá causar problemas aos outros a respeito de suas deficiências.
Quando a pessoa para de se preocupar consigo e se aceita como é, então ela se apaixona por si mesma. Ela fez as pazes no interior e portanto fez também com o mundo. Ela descobre que o amor é a essência do universo. É sua verdadeira natureza.


Sri Amma Bhagavan

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


“Eu aconselho minhas pacientes grávidas a evitar o bisfenol A ao máximo”
Em entrevista, Hugh Taylor, pesquisador obstetra da Universidade de Yale, fala sobre a grande incidência de câncer de mama e sua relação com a exposição ao BPA ainda no útero

O médico Hugh S. Taylor é professor de obstetrícia, ginecologia e ciências reprodutivas e chefe do Departamento de Endocrinologia e Infertilidade da Escola de Medicina da Universidade de Yale. Também é diretor do Centro de Endometria e Endometriose da mesma universidade e foi o principal pesquisador em um estudo que identificou importante mecanismo acionado pela exposição ao BPA durante a gravidez que poderia induzir ao desenvolvimento de câncer de mama décadas depois do nascimento da criança.

Medscape: Você poderia descrever sua pesquisa sobre o risco do desenvolvimento de câncer em mulheres cujas mães foram expostas ao bisfenol A (BPA) durante a gravidez e nos dizer se a pesquisa é clinicamente significante?

Dr. Hugh Taylor: Nesta pesquisa utilizamos um modelo com ratos para observar qual o risco de desenvolver o câncer de mama depois de exposição uterina tanto ao dietilestilbestrol (DES) como ao bisfenol (BPA). Observamos mães que ingeriram um desses compostos estrogênicos durante a gravidez e depois determinamos que efeitos a ingestão teve nas filhas depois de adultas. A prole não foi exposta a esses agentes quando adultas. Elas só foram expostas durante a gravidez. Pesquisamos apenas o tecido mamário. Evidencias recentes demonstram que mulheres que foram expostas ao DES quando fetos começam a mostrar um elevado risco de desenvolvimento do câncer de mama quando chegam aos 40 anos. Essa droga foi utilizada na década de 50 e 60 para prevenir abortos e agora vemos que isso está levando a um maior risco de desenvolvimento de câncer de mama em suas filhas. Nossa intenção era descobrir o mecanismo por trás desse risco. Como pode a exposição ao estrogênio enquanto feto influenciar o risco de desenvolver câncer de mama meio século depois do consumo? Também queríamos determinar se o BPA tem o mesmo efeito.

Como você compara as diferenças entre o DES e o BPA em termos da potencialidade de seus efeitos?
HT: Bom, isso foi uma surpresa. O DES é um estrogênio muito potente e o BPA é um estrogênio fraco. Foi então surpreendente que os dois estrogênios tivessem o mesmo efeito em nossa pesquisa, o que nos fez especular que eles estariam afetando a expressão genética através de um outro mecanismo além do efeito no receptor estrogênico.

Em termos de importância clínica, você está muito preocupado com os resultados?
HT: Como eu já mencionei, nosso objetivo era entender esse mecanismo e não decidir qual dose é segura. A similaridade com o DES faz nossas descobertas muito relevantes. Em humanos está muito claro que mulheres expostas ao DES apresentam muitas complicações reprodutivas, incluindo úteros anormais e está se tornando aparente que há um aumento no risco de desenvolvimento de câncer de mama, especialmente depois de ficarem mais velhas. Nosso estudo mostrou que o BPA está fazendo exatamente a mesma coisa. Isso me preocupa. Ainda não está claramente definido o que exatamente uma mulher grávida deve fazer, mas eu diria que faz todo sentido se precaver. A maior parte das evidências disponíveis mostra que há um certo risco.

É possível estudar os efeitos do BPA em mulheres?
HT: Nunca teremos um estudo perfeito com mulheres. Primeiro porque em países desenvolvidos todas as mulheres estão expostas ao BPA, então você teria dificuldade em achar um grupo de controle sem exposição. E se você achasse esse grupo em um país em desenvolvimento você ainda não poderia fazer a comparação. Existem muitas outras diferenças, então é difícil atribuir um resultado somente ao BPA. Você também nunca daria a mulheres grávidas uma dose que pode ser perigosa. Não seria ético. De qualquer forma, temos correlações entre níveis de bisfenol na urina e doenças em humanos. Com estudos feitos com animais e essas correlações acho que faz sentido ser cuidadoso e não correr o risco de se expor ao BPA, especialmente durante a gravidez. A gravidez é o período mais vulnerável. Portanto, eu aconselho minhas pacientes grávidas a evitar o BPA o máximo possível.

Que dicas você dá para evitar o BPA?
HT: É quase impossível evitar o BPA completamente. Está presente em tantos produtos. Eu ainda tenho o que aprender em relação a isso, mas eu acho que uma exposição comum é através de garrafas de plástico.

Isso inclui recipientes para armazenar alimentos? Como identificar se o produto tem bisfenol A?
HT: Sim, o número de reciclagem no pequeno triângulo na parte inferior do produto é geralmente uma boa dica. Se tem o número 7 pode conter BPA.

Enlatados também são claramente uma importante fonte de BPA.
HT: Sim, quase todas as latas são revestidas interiormente com a resina epóxi que contem BPA. Essa resina evita que a lata vaze e que bactérias contaminem os alimentos, o que é uma boa coisa, mas o BPA migra da lata para o alimento. Faz sentido uma mulher grávida evitar comer ou beber enlatados, especialmente nos primeiros meses de gravidez. Isso inclui comer fora, porque muitos restaurantes utilizam produtos enlatados para preparar pratos. É uma boa ideia comer frutas e vegetais frescos e é claro que isso tem outras vantagens também.

O BPA está presente nas latas há muitas décadas. Isso não demonstra sua segurança?
HT: Mas também estamos vendo a incidência de câncer crescer, incluindo de câncer de mama nas últimas décadas. O quão o BPA é responsável por isso? Eu não sei.

Existem outros compostos estrogênicos preocupando as pessoas, então é claro que surge a pergunta sobre como eles se comportam juntos.
HT: Nós ainda não sabemos. É claro que estamos expostos a muitos químicos, e alguns funcionam como hormônios e sem dúvida interagem; mas até entendermos melhor como isso acontece acho que faz sentido tentar eliminar ou evitar aqueles que já sabemos ser perigosos. O BPA, por exemplo, já certamente demonstrou que leva a problemas no útero e nos seios.

Porque você acha que seu estudo gerou tanto interesse da mídia?
HT: Bom, eu acho que é a primeira vez que um mecanismo nos diz porque estamos observando uma maior incidência de câncer de mama. Essa pesquisa poderá ajudar a resolver o mistério de como uma breve exposição pode programar uma pessoa por toda a vida. Isso é uma novidade.

Você tem observado uma movimentação das pessoas para eliminar o BPA de produtos?
HT: Sim, por exemplo, a Califórnia e Connecticut já aprovaram leis para remover o BPA de brinquedos de crianças. A Nalgene já retirou o BPA de suas garrafas de água. O Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental (National Institute of Environmental Health Sciences - NIEHS) investiu muito em pesquisas sobre os efeitos do BPA. Na verdade, a mídia e o público em geral estão fazendo mais que todos para impactar esse assunto. O mercado está causando a maior parte dessas mudanças. A Nalgene retirou o BPA de suas garrafas não porque isso foi exigido por lei, mas porque as pessoas começaram a ler sobre esse assunto e passaram a comprar garrafas de aço inox. O Walmart* também está retirando produtos com BPA de suas prateleiras e isso também aconteceu porque consumidores pediram por essas mudanças. Forças do mercado impulsionadas por notícias e pesquisas sérias é que estão levando a essas mudanças e não regulamentações governamentais.

Notícia originalmente publicado no dia 27 de julho de 2010 no Medscape, site para profissionais da saúde dos Estados Unidos.
Autora: Carol Peckham. Reprodução autorizada.
Pesquisa foi publicada em maio de 2010 na revista Hormones and Cancer da Sociedade Americana de Endocrinologia. Department of Obstetrics, Gynecology, and Reproductive Sciences, Yale University School of Medicine, 333 Cedar Street, P. O. Box 208063, New Haven, CT 06520, USA.

*Somente em lojas dos Estados Unidos e Canadá
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele ou por sua origem, ou sua religião.

Para odiar as pessoas precisam aprender.

E se podem aprender a odiar, podem ser ensinados a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.

A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta."

( Nelson Mandela)
A lei não escrita
Rosiska Darcy de Oliveira
O GLOBO – 24 de julho de 2010


É possível que, nas sombras, uma mulher tenha sido estrangulada e jogada aos cães. Outra, à luz do dia, seria morta a pedradas não a tivesse salvo, in extremis, uma corrente global de defesa de direitos humanos. Por enquanto...

“Uma ‘piranha’ querendo extorquir o goleiro do Flamengo”, me explicou um chofer de táxi, indignado com a injustiça contra o acusado. A outra, adúltera, palavra maldita na boca de aiatolás escandalizados, no Irã do companheiro Ahmadinejad.

Fogo, pedras, bala nas costas ou rotweillers, aqui ou lá, são fins previsíveis das mulheres atiradas na vala das indecentes. No Irã, apoiada na religião e na tradição, a execução é legal. No Brasil, é clandestina e selvagem, apoiada na inoperância do Estado e na apatia da sociedade.

As delegacias de atendimento a mulher foram necessárias. Quem recorria a uma delegacia comum esbarrava no preconceito da própria polícia. Mereceu a surra que levou? Provocou com pérfida sedução o estupro que sofreu? Houve quem risse, cúmplice,quando o goleiro Bruno perguntou qual o homem que, na vida, nunca saiu na mão com uma mulher. Quem se associaria hoje, mesmo em um sorriso, a tão ilustre pensador?

A lei Maria da Penha exprime o repúdio de mulheres de todas as classes à barbárie de um mundo anômico e sombrio. Exigiram proteção do Estado e punição para agressores e assassinos, fossem eles maridos, amantes ou namorados eventuais. Supunha-se que a lei teria efeito punitivo e também dissuasório. Anos depois, o país registra a cifra estarrecedora de uma mulher assassinada a cada duas horas. Que sociedade de orangotangos é essa? Que democracia inconclusa é essa?

Paradoxo inexplicável, um país que se apresenta ao mundo como potência emergente, alardeando modernidade, com duas candidatas à presidência da república, é o mesmo que convive com o massacre das mulheres, nos aproximando do que há de mais anacrônico no mundo contemporâneo.

Eliza Samudio procurou uma delegacia, invocou uma lei e foi enviada a um juizado que, todos, existiam para protegê-la. Deixada ao desabrigo, foi morta. O sistema judiciário falhou tragicamente. A responsabilidade, cabe a ele mesmo apurar e punir. Não é a primeira vez que falha. O jornalista Pimenta Neves, assassino confesso que, pelas costas, executou a amante, condenado a dezenove anos de cadeia, está em liberdade, blindado por artimanhas jurídicas.

O cidadão Joseph K, no livro O Processo de Franz Kafka, é encarcerado por um crime cuja acusação não conhece. Pimenta, personagem kafkiano pelo avesso, foi libertado malgrado um crime que confessou.

Tão perigosa quanto a violência explícita do crime ou a inoperância da justiça é a violência surda dos olhares enviesados, dos “mas” ou “talvez” que desculpam a brutalidade, argumentando que a moça não era nenhuma santa. Crimes bárbaros encontram atenuante nos “pecados” sexuais atribuídos às mulheres. Só elas são ‘vagabundas’, resguardado aos homens o direito a fazer em matéria de sexo o que bem quiserem sem que isso interfira em outros aspectos de suas vidas ou reputação.

Don Juan e Casanova são os modelos mais acabados da virilidade bem sucedida. A literatura está cheia de exemplos de rapazes pobres que “sobem na vida”, casando-se com herdeiras e tudo se passa em um clima de esperteza consentida e incentivada. Não há masculino para piranha.

Políticos fazem orgias, jogadores de futebol também, condenadas são as mulheres que delas participam. Eles não, apenas exercem um direito ancestral - são folguedos, farras - onde usam seres humanos como coisas que desprezam. Não nos iludamos, a chamada mulher honesta também apanha se contraria um violento. O sentimento de poder não aceita desobediência .

A falha não está somente na justiça. A lei, por melhor que seja, não arranca as raízes de uma cultura perversa. Quem muda a cultura são os homens e mulheres que decidem recusar em suas vidas as relações de poder que deságuam nessa aberração. A sociedade não é uma abstração, é o dia a dia das pessoas, nos gestos de amor ou de ódio, no sexo que reconhece - ou não - qualquer mulher como um ser humano.

Assassinos de mulheres não são necessariamente psicopatas. São criminosos que acreditam no seu bom direito de matar e por isso não se arrependem. Mortas, suas vitimas continuam a ser culpadas.

Há países islâmicos em que as impuras são jogadas em um buraco e apedrejadas. Não seria essa a encenação perfeita, a atualidade e materialização de uma lei que, não escrita, ainda vigora, também entre nós, inconsciente ou inconfessa?