segunda-feira, 30 de março de 2009

Quando Deus Era Mulher


Toda a história que conhecemos até bem pouco tempo atrás, que era ensinada nas escolas e que fazia criarmos uma idéia da nossa civilização, começava em um tempo muito remoto do início da era patriarcal.
Esta época era povoada por Deuses poderosos portando espadas e escudos assim como podemos constatar, também, no sabido Pai do Olimpo, Zeus, o senhor do raio e do trovão. Mesmo imersos em feitos heróicos e de dominação e de deusas com posturas masculinas como a deusa Athenas, na memória deste povo existia algo diferente, que foi sendo adaptado à nova verdade onde o centro era o masculino. Surgem, na Grécia antiga, mitos que são claramente a passagem de uma época em que as deusas femininas (que na antiguidade nada mais eram do que as várias facetas da mesma deusa, a Grande Mãe), foram sendo modificadas e transformadas para fazer frente a uma nova verdade que se instalava progressivamente naquela sociedade.
Constatam-se várias histórias de Deusas Tríplices, vários aspectos e maneiras de retratar uma verdade anterior que era o aspecto tríplice da Grande Mãe, da natureza.
Desconhecíamos até bem pouco tempo atrás que existisse algo antes desta estrutura social organizada que é hoje nosso referencial de mundo.
Há muito pouco tempo temos a arqueologia como ciência organizada que permite o estudo de um sítio arqueológico em toda a sua plenitude e após a Segunda Guerra esta ciência se consagrou, passando a ser respeitada. Em seu trabalho isola o local a ser estudado sem retirar nenhuma peça para, então, catalogá-las e construir um panorama da época, dos hábitos, costumes, crenças, religião, estrutura social, política, econômica do povo que ali habitava, tecendo uma colcha de retalhos ao redor do mundo para descobrir, cada vez mais, de onde viemos. Isto tem permitido construir uma nova visão e verdade a respeito de nossas origens e história.
Novos pesquisadores vem descobrindo novos sítios arqueológicos que confirmam ter existido, antes do que conhecemos como o início da nossa história, uma civilização evoluída que tinha uma estrutura complexa de organização.
Em regiões da Europa Antiga, termo que designa o sudeste Europeu e também em regiões de culturas megalíticas da Europa Ocidental como Irlanda, Grã-Bretanha, Malta, Sardenha, Escandinávia, França, Espanha, na Ilha de Creta e regiões além dos Balcãs e Oriente Médio, onde hoje se situa a Turquia, na região da antiga Jericó, hoje Israel, foram descobertas, através de numerosas escavações, estatuetas femininas e símbolos de uma deidade feminina que pertenciam ao período neolítico. Também foram descobertos artefatos que mostram ter existido uma sociedade estruturada, gregária, pacífica na época de 7000 ªC. até 3500ªC.”Na verdade, os primeiros sinais do que os arqueólogos denominam a revolução neolítica ou agrícola começam a surgir em períodos remotos como 9000 ou 8000 ªC. – há mais de dez mil anos.” (O Cálice e a Espada – Riane Eisler).
Nesta época de 7000 ªC., em Jericó, as pessoas já moravam em casas de tijolo e reboco, algumas com fornos e chaminés e em um sítio neolítico da Síria setentrional, foram encontrados artefatos de cobre forjado e também estatuetas femininas semelhantes.
A maior parte da história que conhecemos e que aprendemos a pensar como nossa evolução cultural tem sido mera interpretação. (O Cálice e a Espada). Além disto, o que pensamos a respeito do que vimos e a verdade que construímos a partir daí são verdades baseadas em nossa forma habitual de pensar por estarmos imersos em uma estrutura social e de pensamento há 6000 anos e que se encontra arraigada em nosso inconsciente, a estrutura patriarcal. Portanto, a história que conhecemos merece, no mínimo, ser questionada para que possamos ter a isenção suficiente, necessária, para olhar para ela como ela merece.
Normalmente a história é construída a partir de artefatos encontrados que falam de culinária, vestimentas, instrumentos de rituais religiosos, mobílias, alimentos, jóias, ferramentas e em geral, objetos de uso diário. Também temos como referência a atitude do povo frente à morte, hábitos que fazem parte dos funerais. Por fim, junta-se tudo isto através da arte que retrata várias situações do dia a dia e representa todo o sistema da estrutura social daquele povo em questão e que reflete suas crenças, filosofia de vida, papéis femininos e masculinos, etc. Este conjunto de dados nos ajudam a ir tecendo a idéia a respeito de como viviam, amavam, pensavam e morriam as pessoas do povo em foco na pesquisa.
Importante é ressaltar que a ausência de determinado objeto ou atitude reflete também o que esta sociedade considera importante ou não e neste caso dos sítios neolíticos foi flagrado uma total ausência de instrumentos bélicos e também de fortificações defensivas o que corrobora a idéia de que eram pacíficos.
Nossos ancestrais também se questionavam de onde vinham e neste questionamento observavam os ventres crescidos de suas mulheres originando a vida, suas crianças crescendo e a chegada da morte. Viam também o eterno ciclar da estações trazendo o sol e o calor do verão seguido do frio e neve do inverno, o florescer das árvores e o cair das folhas, a expansão e a retração da face da lua e o sangramento de suas mulheres acompanhando este eterno nascer e renascer do círculo prateado do céu. Com isto concluíram que a vida vinha da mãe grávida e da Grande Mãe, a mãe natureza, e construíram seu mundo de rito tendo como centro uma deidade feminina.
Sendo a natureza sua mãe, adoravam tudo que dela fazia parte e em lugar de serem achados instrumentos bélicos, foram achadas pinturas murais, baixos relevos e elementos decorativos evocando símbolos ligados a ela, atestando a admiração e respeito que devotavam à beleza e mistério da vida. Em alguns lugares foram encontradas mulheres grávidas, mulheres dando à luz, algumas delas acompanhadas de animais. Também foram encontradas estatuetas representando mulheres junto à animais e plantas e outras que eram parte humanas e parte animais, o que posteriormente foi mal interpretado pela cultura patriarcal. Estas representações da mãe natureza mostrando a micigenação entre humanos e animais, mostravam que todos são parte do corpo da mesma grande mãe, todos filhos do milagre, do mistério e da beleza da vida afirmando a ligação com a vida e não com a guerra e a morte. O objetivo era ter um lugar adequado para instalar-se, cultivar a terra, como demonstram os vários locais encontrados com casas, planícies fertéis, com espaço dedicado ao cultivo agrícola e à pastagem dos animais fornecendo meios materiais para uma existência satisfatória.
Assim, nossos ancestrais viviam em total parceria com a natureza. Não se consideravam seus donos mas usavam a terra enquanto era necessário devolvendo a esta tudo que restava de suas colheitas, ou seja, lhe devolvendo a energia necessária para mantê-la fértil, vital, sem esgotá-la ou esvaziá-la.
Sabiam que seus rios precisavam ser mantidos limpos para poder beber daquela água sem adquirir doenças e que seus animais também precisavam de uma natureza saudável.
Parece que nós, hoje, com todo o nosso conhecimento tecnológico sabemos menos do que estes homens ditos primitivos.
Como cita Riane Eisler em seu livro, o Cálice e a Espada, histórias tais como nossa expulsão do Jardim do Éden também se originam de realidades mais antigas: de recordações populares das civilizações agrárias (ou neolíticas) primitivas, as quais plantaram os primeiros jardins desta terra.
Existem locais, que se pode confirmar através do uso da tecnologia que hoje está a nosso alcance, onde a paz esteve presente por mais de 15000 anos, pois não existem sinais de destruição pela guerra. Evidências arqueológicas também permitem demonstrar não existir dominação masculina. É possível perceber a divisão de tarefas, a igualdade na tomada de decisões, a ausência de diferenças nos túmulos masculinos e femininos referendando uma sociedade igualitária, estruturada em uma relação de parceria.
Existem também evidências de ter sido esta uma sociedade matrilinear, ou seja, onde o nome e os bens de sucessão se faziam pela linhagem materna.
Quando não se conhece outro referencial, se depreende que onde não exista uma sociedade patriarcal deve existir uma sociedade matriarcal. Aqui se vê que olhamos para algo que não conhecemos com olhos já acostumados a uma verdade e que logicamente não consegue vislumbrar uma outra possibilidade.
Pelos dados recolhidos, depreende-se que a realidade daquela época era algo bem diferente do que temos hoje, algo que só recentemente começa a ser falado em nosso meio e que ainda ocupa na mente de muitos um lugar de utopia, idealismo vão e ingênuo e que, preconceituosamente, orbita no reino do pensamento mágico para muitos que não querem abrir sua visão para expandir os conceitos de sociedade, política, economia e religião.
Quando teimamos em ficar sentados sobre uma verdade sem nos abrirmos para a possibilidade de existir uma outra forma de ver, sentir, construir e arquitetar o futuro de nossos filhos e nação, corremos o risco de levarmos nossa sociedade à falência, pois não abrir os olhos para o novo é estagnar em um conceito, não percebendo que a vida é cíclica e que os conceitos também ciclam como o ventre grávido e a natureza no ir e vir das estações.
A vida se deleita e arquiteta seus engendros no fluir sempre novo dos conceitos e visões sem os quais estaríamos fadados a ocupar sempre o mesmo lugar no espaço sem evoluir, crescer, transformar, expandir. Ficaríamos como pequenos objetos em uma loja de brinquedos, sempre iguais, à disposição em uma prateleira sem vida.
Em assim vivendo, é natural que nos sintamos desvitalizados e cansados da mesmice dos nossos dias. Sem nutrição por não estarmos alimentando o fluxo da vida em nós que vem da descoberta diária de quem somos, do que queremos, do que sentimos, de quais são os nossos desejos, de como sofremos e nos deleitamos, o que alimenta a nossa alma, nos tornamos amargos, pessimistas, tristes e morremos de cancer, infarto, solidão, infelicidade. Descobrindo tudo isto nos recôndidos da nossa alma, descobrindo quem somos, qual o nosso desejo mais profundo, qual nosso propósito de vida, qual a fonte do nosso eterno viver, poderemos recuperar o otimismo e a crença de que podemos construir um mundo melhor onde mulheres e homens poderão desfrutar de uma divisão de direitos e deveres sem o domínio de um sobre o outro e sem a desqualificação de um sobre o outro.
Cumpre-nos descortinar esta nova verdade e construirmos um novo mundo baseado na parceria, no amor e confiança entre os homens de boa vontade que cultivam e respeitam a terra e a Terra, fonte de nossa nutrição e sobrevivência.
Margareth Osório

domingo, 22 de março de 2009

O Parto, um portal iniciático.
Tive aulas de parto natural, assisti a filmes e li alguns livros para me preparar para o acontecimento do nascimento de minha primeira filha, Isabella. O Pai dela e eu fazíamos visitas regulares à ginecologista que concordara em fazer um parto normal. Acreditávamos na força e na sabedoria da natureza que junto com as influências da lua, a maturidade da criança, a eficácia das contrações e a dilatação, traria ao este mundo um ser por nós gerado. À medida que a data prevista para o nascimento dela se aproximava eu aguardava o trabalho de parto como se estivesse partindo para uma expedição. Aos 29 anos já não era mais uma jovem. No fundo, eu tinha algumas preocupações, mas as mantinha sob controle: “o bebê seria normal?”, “eu sentiria muita dor durante o parto?”. Pensava que poderia haver complicações e estas questões estavam fora do meu alcance. Muitas de nós mulheres tem muito medo daquilo que sabemos – de que a terrível dor e a morte são possíveis em um parto.
As contrações começaram ao anoitecer de uma sexta-feira de primavera e ficavam cada vez mais fortes e regulares. As primeiras horas não foram ruins e era fácil de respirar como aprendera nas aulas de “parto sem dor”, o que era animador. Por isso, senti como se fosse uma aventura, quando chegou a hora de ir para o hospital. A nossa obstetra fazia parte do grupo que acreditava que o pai deveria assistir ao parto e nessas condições, não passei por isso sozinha.
No entanto, esse território não se apresentou tão familiar assim. Eu descobri que havia de passar por vários portais, e em cada um deles me desapossar de algo que representava minha identidade. O primeiro portal era o processo de admissão na maternidade, onde renunciei a meus pertences e a minha identificação. No portal seguinte, me despi e recebi uma bata larga para vestir, sem nada por baixo. No terceiro portal entrei na sala de pré-parto e me deitei de costas para os exames de rotina para a verificação da rapidez e da extensão da dilatação do colo do útero e da fase de trabalho de parto que me encontrava. À medida que as dores aumentavam eu ia perdendo controle da situação. Sentia-me como se estivesse em um mundo subterrâneo, em um estado alterado de consciência. Sentia ondas de dor que subiam e descia cada qual se tornando mais longa e intensa, com intervalos cada vez menores de alívio entre uma e outra. Foi um esforço físico extenuante, difícil e sofrido, e os intervalos foram preenchidos por um medo antecipado. Fui conduzida então para outro portal até a sala de parto.
No momento imediatamente anterior ao parto propriamente dito, fui submetida a uma anestesia que me abrandava a dor, mas conservava a sensação de tato, quando as dores são as mais longas e intensas de todo o processo. Eu me sentia fraquejar, pois assim como todas as mães, quando o bebê atravessa o colo do útero em direção ao estreito canal do nascimento, passando pelo arco pubiano para emergir no mundo é a prova que exige mais do corpo do que a mente considera possível. Embora a força de vontade faça o processo seguir, os últimos estertores do trabalho de parto estão além da vontade e da escolha. Existe somente a capitulação do que está acontecendo dentro de você e a você. O trabalho culmina com o nascimento de um bebê, ou como está registrado em algum ponto do nosso inconsciente desde sempre, na morte da mãe. Este é o momento em que o bebê atravessa literalmente um portal que o conduz a uma nova fase, quando o risco de danos ao bebê e à mãe chega ao ponto máximo. Esse é o arquétipo de todas as mudanças da vida: depois que atravessamos a passagem, nada permanece como antes.
E assim foi. Com um derradeiro empurrão, Isabella chegou ao mundo através de min. Naquele momento, eu mesma fui o portal. Logo depois ouvi um choro e fui informada de que era uma menina e que estava bem. Ela foi alocada momentaneamente em meus braços, acordando imediatamente o carinho maternal e um assombro pelo fato de que esse pequenino ser ter se desenvolvido dentro de min.
Durante as dores de parto muita coisa sucedeu. Muita coisa me foi revelada de uma maneira incomum sem palavras ou ponderação. Era como se eu estivesse descendo em direção a escuridão. O “eu” que executava tarefas no mundo não estava na sala de pré-parto ou de parto. Isso para mim foi uma intensa iniciação em que vivenciei uma profunda consangüinidade com todas as mulheres de toda a história que passaram por essa transformação. Nada me distinguia de uma mulher de nenhum lugar que tivesse dado à luz a um bebê.
A prova do trabalho de parto e do próprio parto me aliciou para o movimento do feminino. A afinidade com as mulheres e a profunda irmandade começou naquela época. Adquiri com o tempo um conhecimento místico de unicidade com todas as mulheres. Minha individualidade não significava coisa alguma, nessa experiência fui todas as mulheres, qualquer mulher, Mulher. Essa foi uma experiência intensa.
Pude perceber como na gravidez, nas dores e no parto, as mulheres de toda a parte do mundo passam por um importante ritual de passagem que não é reconhecido por nós, pela sociedade ou pelas religiões. O que é apenas decretado nos rituais masculinos de passagem - os elementos de prova, o risco da morte e a transformação, é a situação literal vivida na gravidez. O trabalho de parto é uma prova, existe um risco intrínseco de morte, a mulher é transformada. Nesse processo de iniciação, o corpo de uma mulher se altera no corpo de uma mãe, e ela da nova vida ao bebê. E isso é apenas o começo de seu compromisso. Para que a criança sobreviva, cresça e se desenvolva, a iniciada deve ser responsável pela nova vida. Mesmo que ela sozinha não seja responsável pela continuação da espécie humana, a espécie humana continua porque a cada instante uma mulher passa por essa iniciação e traz através de si uma nova vida.
A minha gravidez também me persuadiu de que nenhuma mulher deve passar por isso contra sua vontade, principalmente se a concepção ocorre devido a um estupro ou incesto – circunstancias que profanam seu corpo e sua alma.
Uma mulher grávida será transformada através da experiência vivida em seu corpo e em sua psique. Ela se entrega ao processo de gestação, das dores e do parto. O foco, entretanto recai sobre o bebê que ela carrega. Tão significativo quanto à possibilidade de um novo nascimento é quem a mulher se tornará após essa experiência.
A gravidez é como a criatividade que surge a partir de uma imersão no inconsciente.
Stella Bittencourt.

quinta-feira, 19 de março de 2009

A NOVA FAMÍLIA

É interessante perceber como a vida cumpre aquilo que Jung já dizia no início do século: “os seres humanos caminham pela vida rumo à individuação hora se aproximando do Self hora se afastando”.
Ele falava que caminhamos em círculos e que em alguns momentos, ao nos aproximarmos do self, estamos mais perto da “consciência” e quando nos afastamos, parecemos andar temporariamente nos reinos da noite escura da alma, sem rumo, sem clareza, nos sentindo sem saída.
Quando pensamos isso em termos de sociedade e humanidade, percebemos os mesmos movimentos. Há momentos em que, como sociedade, estamos mais lúcidos e em outros mais confusos, e ainda, às vezes, isso acontece em um país e, em outros, isso acontece no mundo todo como um fenômeno global.
Lendo um reportagem na revista Época, não pude deixar de fazer certas reflexões, pois a reportagem fala do retorno da mulher ao seio da família e do lar para cuidar dos filhos e, que isto, começa a não ser mais considerado atraso, retrocesso, etc. e mais, o homem está tendo uma participação ativa também neste domínio.
Percebo uma mudança de valores sociais ocorrendo, neste momento, no pensamento profundo da sociedade.
Experimentamos e sentimos as vantagens e as desvantagens das decisões tomadas no passado.
Por muito tempo a mulher viveu desvalorizada, submissa, muitas vezes até prisioneira de seus companheiros de caminhada, os homens. Resolveu, um belo dia retomar seu espaço no mundo.
Por ter passado muito tempo sem exercer sua identidade, não sabia o que fazer consigo mesma. Buscou inserir-se novamente no mundo mas só tinha como referência o modelo masculino de estar atuando socialmente, assim, queimou sutiãs em praça pública, usou calças compridas, usou gravata, cortou os cabelos, fumou, usou OB para esconder seu sangue, e trabalhou, deixou a casa, os filhos, contratou babás, transporte escolar, delegou o cuidado da casa e saiu para o mundo do trabalho; se realizou muito como ser e teve sucesso financeiro, mesmo sendo a remuneração do mundo feminino menor que a do mundo masculino. Agora, depois de toda esta experiência, a mulher começa a pensar o retorno para casa para cuidar dos filhos.
O que aconteceu neste tempo todo que fez a mulher repensar algumas decisões? E este retorno hoje faz a mulher assumir o mesmo papel passivo de antes? Longe disto!
A mulher lutou muito tempo para conciliar os seus papéis de mãe e profissional, depois veio a necessidade de conciliar a mulher a este mundo já demandado, mais tarde foi o chamado de dar mais atenção ao mundo pessoal, ao seu contato consigo mesma e mais ainda, pôr luz no seu espaço de contato com a espiritualidade.
Presa na vontade de dar conta de tudo isto de uma boa maneira, a mulher começou a viver os mesmos colapsos dos homens, as mesmas doenças, o mesmo stress.
Neste momento surge a necessidade de reavaliar atitudes, decisões, tarefas, disponibilidades, qualidade de vida para ela e para a sua família, e a percepção de que, talvez, não seja possível dar conta, sozinha, de todos estes lugares e é aí que surge a nova família.
Hoje é visível a necessidade de pai e mãe trabalharem no apoio às necessidades da casa e dos filhos.
A mulher retorna para casa mas começa a investir no trabalho de uma forma mais criativa. De dentro de seu lar ela cria novos mercados, novos trabalhos, com flexibilidade de horário, de tarefas e de idéias. Gerencia empresas, dá consultorias, cria respostas novas de trabalho de uma forma mais racional para a sua rotina familiar.
O pai, neste momento também trabalha mas começa a buscar mais qualidade de vida, mais contato com seus filhos, começa a dividir tarefas no lar, buscar filhos na escola, levar filhos ao médico, dividir cuidados, responsabilidades, saberes, amores com suas companheiras de caminhada.
Esta família mais equilibrada e amorosa inaugura uma nova fase nas relações entre homens e mulheres e entre pais e filhos.
Parece que estamos mais próximos do self neste momento social, que consigamos então fazer esta revolução necessária do amor na sociedade em que vivemos e aí, talvez, ou melhor, certamente, nosso arquétipos sociais irão mudar do ter para o ser.
Margareth Osório
As Gerações Futuras.
Inúmeros são os nomes da Grande
Mãe: os Cristãos a chamam de Maria, os Incas de Pacha Mama, os orientais de Kuan Yin, os zen-budistas de Avalokiteshvara, os Wiccas de Deusa e se quisermos alargar esta lista podemos mencionar as dezenas de “Nossas Senhoras”, como “Nossa Senhora de Fátima” ou “Nossa Senhora dos Navegantes” em suas muitas aparições.
O que qualquer um desses nomes invoca é a energia da Mãe, a energia criadora, a polaridade Ying, que oferece colo e conforta. Que nos ajuda e nos indica o caminho, que nos prove alimento, que nos cerca com seus braços, que nos acalenta. Essa é a energia da Mãe. Da nossa Mãe biológica e de nossa Mãe terra, Mãe natureza. É dela que extraímos nossa sobrevivência, o alimento e a energia que nos dá poder para enfrentarmos os desafios cotidianos. Essa Mãe que é divina e poderosa, diante das dificuldades é capaz de nos oferecer abrigo e confortar diante das adversidades.
Assim como a Mãe possui delicadeza para nos conduzir e amar, ela possui muita força para nos repreender. Esses limites nos são impostos muitas vezes através de cataclismos, enchentes e outras respostas que a mãe Terra nos envia de tempos em tempos. Se existe um aquecimento global, isso se deve as nossas emoções desequilibradas; todo o medo, mágoa, raiva e tristeza que paira pelo planeta a ponto de derreter geleiras. Essas emoções desenfreadas nos tornam seres infantis que nos levam ao consumismo, ao ter, ao poder, a comprar, à geração de tanto lixo, do comer mais que o necessário, à devastação desenfreada dos recursos naturais, à mídia formadora de opinião, que nos leva ao conhecimento pronto, enlatado, industrializado, determinista. Não é porque sai no jornal, que ali está à verdade. Não é porque o repórter falou na TV, que algo é.
O que é real e unicamente verdadeiro são as certezas que residem no interior de cada um. E é justamente para medir o que é certo ou errado, bom ou ruim, o que é verdadeiro ou não que fomos presenteados com dois mecanismos avançadíssimos: as emoções e a consciência. Elas são nossas bússolas internas, é nosso norte. Entretanto é difícil discernir e escutar em um mundo tão barulhento. Esse elo e esse respeito pela energia feminina se perderam e nos tornamos escravos de nosso próprio ego, dos nossos desejos imediatistas e do materialismo.
As mães humanas são como partículas da grande mãe. Acredito que a maternidade seja como um ritual iniciático na vida da mulher. Todo o período de gestação, de preparação do corpo, a mudança dos hormônios, as curiosidades e comemorações acerca de quem está por vir, são como a Mãe terra que se preparou durante bilhões de anos para receber a humanidade.
Que um filho deve ser amado e cuidado, não há a menor duvida. Quando se assume o compromisso de ser pai ou mãe, não é uma brincadeira de bonecas, mas ensinamentos confiados a nós. Porém isso deve ser leve, natural e muito, muito divertido. Inúmeras vezes, em sua maioria na verdade, não há como prever o que vai acontecer, pois o futuro depende de muitas possibilidades. E tudo é impermanente, cíclico. Faça o melhor que puder e com amor, aproveitando os momentos junto a seus filhos. Pergunte a uma criança se ela prefere um brinquedo importado ou seus pais mais presentes em suas vidas. Você já sabe qual é a resposta não é mesmo?
Se você tem curiosidade de saber como se trata uma criança de maneira sábia, aprenda com os povos nativos antigos. Eles são deixados a vontade na natureza, jamais escutam a palavra não, nunca recebem conhecimento pronto, não são obrigados a nada e vão construindo seu caráter e desenvolvendo aptidões naturais que determinam sua posição dentro da tribo. Isso tudo através da experimentação, vivendo as situações que lhes são plenamente permitidas. Alguns têm aptidão para a função de guerreiro, outros para a caça, alguns para xamã e outros para cacique.
Não concordo com determinismos nem dogmas e sou a favor da evolução tecnológica, mas também defensora da educação biocêntrica da qual nos fala Rolando Toro e do discernimento humano. Não estou dizendo aqui que teremos de voltar a morar em aldeias ou criar filhos como os aborígenes australianos, nada disso... Estou apenas sugerindo que você pense mais sobre a vida e encontre um ponto de equilíbrio em tudo isso.
Você foi livre desde criança para descobrir naturalmente suas aptidões para ciências humanas, exatas, para a saúde ou o direto? Ou seus pais lhe diziam: “Não seja professor porque isso não dá dinheiro? Ser atriz é muito difícil...” Ou talvez aquela frase: “... ah, isso não, isso aí não é legal...” Lembre-se de que a maioria das nossas preocupações são acerca daquilo que nunca poderemos controlar. Se não podemos controlar, para que se preocupar?
Deixo aqui uma sugestão: ao invés de se preocupar tanto, aja com sabedoria para amar. Amor verdadeiro é aquele que ensina que deixa a energia fluir, mesmo que isso traga conseqüências desagradáveis e a dor. Nem sempre o crescimento só é possível através do sofrimento, mas é nesses casos que o aprendizado vem com maior força e jamais é esquecido. Entender a dor e o momento evolutivo do outro é a maior demonstração de carinho e amor puro.
Stella Bittencourt

terça-feira, 3 de março de 2009

O feminino é algo que suscita dúvidas na sua definição: multifacetado, inconstante. Já foi a linha pela qual a humanidade se norteou; saiu de cena como protagonista, ocupando um espaço secundário e desvalorizado na era patriarcal.
Retorna agora com força no inconsciente coletivo, pedindo um lugar de integração junto ao masculino, não sustentado pela disputa de poder mas, sim, iniciando uma construção deste diálogo, que mais do que entre homens e mulheres, é um fluxo oscilante entre as forças yin e yang dentro de homens e mulheres.
Estamos, então, frente a frente com esta questão: quem é esta mulher? O que é ser mulher nesta integralidade?
Ter centramento, leveza, tranquiilidade é o nosso desafio nessa dança entre a assertividade e a receptividade, entre a ação e o descanso, entre o dar e o receber, entre o dizer não e o dizer sim, entre o cuidar e ser cuidada, entre a determinação e a escuta, entre o auto-respeito e o fazer junto.
Estamos aprendendo, estamos criando, tecendo a dança a cada passo. Juntas, trabalhando nossas dúvidas, vivendo nossas idiossincrasias, vamos nos apoiando nesse novo caminho.
Este espaço se propõe a VIVER as questões do feminino, experimentar para integrar, corporificar; entender e viver as questões emocionais, os padrões mentais, as consequências físicas, através do lúdico, do prazer, da transcedência, da criatividade, da reflexão na busca da identidade e no resgate da vitalidade.


Margareth Osorio e Stella Bittencourt

ABERTURA

ABERTURA

Este blog se propõe a oferecer um espaço de reflexão e partilha sobre questões do feminino. Iniciamos com um poema de Martha Medeiros:

simplificar

não exagerar os sentimentos

arriscar

não seguir os mandamentos

vivenciar

não mitificar os pensamentos

assimilar

não condecorar os ferimentos

reinventar

não copiar aos sete ventos

amamentar

não aprisionar os seus rebentos

uma mulher adulta

só conhece bons momentos


Margareth Osório e Stella Bittencourt